quarta-feira, 11 de julho de 2012


INTRODUÇÃO II

“Antônio Rosa é a rosa negra da cidade, contador de histórias, é capaz de olhar fundo nos olhos dos outros e adivinhar segredos da alma. Seu irmão, Zé Rosa, teve papel parecido, morreu e passou a missão pro Antônio, que vai passar a missão pro seu filho. É caso de consciência e respeito da própria cultura. Acho que aprendeu com as pedras o que é conservar a essência, a memória. Um homem que irradia sentimento de paternidade, que gosta das pessoas que vão a cidade e chora como menino às vezes. Muitos não o entendem, mas dia vira em que vai fazer parte das histórias do lugar que ama e respeita”
Mário Lúcio de Oliveira Flecha.

Esta inscrição está gravada em uma rocha de São Thomé das Letras, no interior de Minas Gerais. Nada mais apropriado. Nesse recanto mineiro soberbo,  cheio de  histórias, de casos, de causos, de coisas, de pedras, de mato e de letras, encontrei um punhado de Dalí e de Brasil.

Dentro dos vários pontos e pousos turísticos da cidade, como a Gruta São Thomé, Gruta do Carimbado, Casa-da-Pirâmide e cachoeiras, encontramos as formações rochosas, sendo a mais famosa delas, a formação da Bruxa. Ventre de histórias de “Antônios e Rosas”, fomentador de todos aqueles que se sentam no telhado da Casa-da-Pirâmide e inspiram fundo o ar puro da Cidade Mística, com ou sem dopping. Em alguns momentos nos pegamos pensando longe, junto com o horizonte, quase caindo em vertigem dentro de nós mesmos, em outros paira a dúvida do delírio, será que a bruxa imitou a formação ou a formação imitou a bruxa? Qual a parte mais próxima de nós mesmos? A consciência? O sono? O  lisérgico? Você tomaria a pílula vermelha de Morpheus?

“Quando vi pela primeira vez a axila depilada de uma mulher, procurei o céu, quando remexi com minha muleta o monte putrificado e cheio de vermes do meu ouriço morto, procurei o céu...” Salvador Dalí
Ele também era um plagiador de primeira. Nos dois sentidos.  Suas primeiras obras são impressionismos e cubismos dignos de elogios de Monet e Miró. Todo mundo precisa de ídolos. Com Dalí não era diferente, pelo menos dos 6 aos 20 anos, quando dizia “Sou impressionista”, sem ter a menor ideia do que isso significava na tenra infância. Depois não, depois soube muito bem o que isso significava, transformou-se em surrealista e seu maior ídolo era ele mesmo.
Aos 33 anos Salvador Dalí pintou uma de suas maiores obras, O SONO.  Inspirado por uma formação rochosa de Cadaqués, sua cidade natal, na Catalunha.  Mas a maior inspiração, com certeza, foram outras. O plagiador. Nada mais inspirador e genuíno do que a dor. Dalí ia fundo em si mesmo, nos seus sonhos, nos seus medos, nas suas urgências e, com uma pitada de rochedo e tinta, copiava o seu inconsciente. “Imaginei, frequentemente, e representei o monstro do sono, como uma pesada cabeça gigante com um corpo filiforme apoiado em equilíbrio nas muletas da realidade. Quando essas muletas se quebram, temos a sensação de cair(...) vocês duvidam que esta sensação é uma reminiscência da expulsão do parto?”

Conta a lenda que um escravo fugido, ao esconder-se em uma gruta, encontrou uma estátua de São Thomé. Junto da escultura havia uma carta de escrita impecável. O Barão de Alfenas, dono do escravo, ao ouvir a história, ficou tão impressionado que alforriou o negro e mandou construir uma igreja ao lado da gruta, onde hoje é o centro de São Thomé das Letras.

As histórias de Antônio, dos escravos, do Brasil, de nós mesmos, dos sonhos,  que estão gravadas nas formações rochosas,  nas letras, nos contos dos nossos avós, nas obras de Dalí, nas viagens que fazemos pelo nosso país e pelo nosso sono geram o que chamamos liberdade. Sentir-se perplexo, surreal ou até mesmo perdido é a melhor maneira sentir-se livre.

Eric Grieger Banholzer 11/07/2012

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